Dentre as áreas da ciência psicológica o fazer mais conhecido pelo senso comum é a psicologia clínica, muitos ainda associam a imagem do psicólogo somente ao modelo tradicional de terapeuta, clínico, aquele que escuta e faz pontuações. Portanto, alguns conceitos são pertinentes à prática clinica, bem como à escuta, a subjetividade, o sofrimento psíquico, aceitação incondicional, o comportamento. A clínica em psicologia é um espaço criado para atender o outro em sua singularidade, ouvi-lo, orientá-lo, apontar caminhos a fim de proporcionar alívio emocional, autoconhecimento, ajustamento criativo, etc. O psicólogo é esse profissional mediador que propicia o encontro do sujeito consigo mesmo a partir da fala. A partir dos estudos, é possível dizer o que é a psicologia clínica, o que ela abrange e como faz o seu trabalho.
No entanto, sabe-se muito pouco sobre aquilo que ela não é; assim torna-se um assunto mais delicado tendo em vista o grande número de posturas metodológicas frente ao objeto de estudo que se encontra em interminável oposição. É oportuno esclarecer que toda a amplitude do fazer clínica está direcionada a atender às diversas demandas, bem como crianças, adolescentes, adultos, idosos, visando ajudar na recuperação do sujeito em sofrimento psíquico, na reestruturação de seu bem estar biopsicossocial e, sobretudo, na promoção da saúde.
Origens da Psicologia Clínica:
A história da psicologia clínica remonta desde o final do século XIX, o termo psicologia clínica foi usado pela primeira vez pelo americano Lightner Witmer. Ele fundou a primeira clínica de psicologia na Universidade da Pensilvânia nos Estados Unidos em que eram tratadas algumas crianças com queixas escolares. Para MOREIRA (2007) a clínica psicológica tem suas raízes no modelo médico, no qual, ou seja, cabe ao profissional observar e compreender para, posteriormente, intervir, isto é, remediar, tratar, curar. Tratava-se, portanto, de uma prática higienista. Dessa maneira, a clínica psicológica esteve, por um bom tempo, distante das questões sociais.
De acordo com TEIXEIRA (2007) de início a clínica psicológica caracterizou-se por um sistema de atenção voltada ao indivíduo, esse atendimento esteve vinculado ao modelo médico, sobretudo na década de 30 com a evolução do psicodiagnóstico. Segundo o autor a concepção clássica de psicologia clínica afirma ser esta uma disciplina que tem como preocupação o ajustamento psicológico do indivíduo e como princípios o psicodiagnóstico, a terapia individual ou grupal exercida de forma autônoma em consultório particular sob o enfoque intra-individual com ênfase nos processos psicológicos e centrado numa relação dual na qual o indivíduo é percebido como alguém a-histórico e abstrato. Nessa época existia uma preocupação em caracterizar o sujeito, uma espécie de rotulação, o que era necessário apontar algum tipo de patologia no individuo. Nesse sentido, aspectos como a história de vida, a escuta qualificada e outras técnicas não eram levadas em consideração.
O que é Psicologia Clínica?
A psicologia clínica é a parte da psicologia que se ocupa em estudar transtornos mentais e suas manifestações psíquicas. Essa área inclui (prevenção, promoção, psicoterapia, aconselhamento, avaliação, diagnóstico, encaminhamentos, dentre outros). “Entendemos que a psicologia clínica se distingue das demais áreas psicológicas muito mais por uma maneira de pensar e atuar, do que pelos problemas que trata. O comportamento, a personalidade, as normas de ação e seus desvios, as relações interpessoais, os processos grupais, evolutivos e de aprendizagem, são objeto de estudo não só de muitos campos da psicologia como também das ciências humanas em geral” (MACEDO, 1984, p.8).
A psicologia clínica deve considerar-se uma atividade prática e em simultâneo, um conjunto de teorias e métodos. Pode ser definida como a sub-disciplina da psicologia que tem como objetivo o estudo, a avaliação, o diagnóstico, a ajuda e o tratamento do sofrimento psíquico, qualquer que seja a causa subjacente (BRITO, 2008). Habitualmente, o que diferencia a psicologia clínica das outras áreas de atuação do psicólogo, é, sobretudo, por ser uma prática que consiste numa observação individual e singular: a escuta clínica. É um o espaço em que o paciente\cliente se apoia para expressar seus conflitos, medos, inquietações e sofrimentos a fim de buscar alívio emocional.
Clínica Atual:
A configuração contemporânea trouxe um lugar para a Psicologia Clínica, um lugar em que o psicólogo se coloca numa postura de escuta do excluído, daquele que não tem um direcionamento efetivo e que procura o auxílio desse profissional. A psicoterapia constitui-se em uma técnica moderna, em que o desvelamento se dá ao modo do desafio. Então, o eu do homem também é tomado como um recurso a ser explorado, no sentido de tornar-se produtivo, bem-sucedido, feliz para sempre. Neste aspecto, a psicoterapia pauta-se numa perspectiva positivista, romântica, subjetivista, que consiste na organização de técnicas e estratégias cujos resultados visam à produtividade, à adequação com a exigência da publicidade, do impessoal, ao desenvolvimento no sentido do socialmente aprovável.
A psicoterapia, deste modo, pauta-se na extração dos recursos de que o homem dispõe para atingir o sucesso socialmente determinado como tal, e é estruturada como utilidade prática (FEIJOO, 2004, p.12). O que se define como psicologia clínica na atualidade está vinculada a sua história e surgimento, porém, com algumas especificidades. No que tange à compreensão dos problemas do homem, do seu bem-estar, busca-se uma não patologização, pautando-se em um acolhimento e escuta ativos para bem ajudar o outro que se encontra em sofrimento psíquico através de um processo psicoterapêutico. As psicoterapias foram criadas para todos os indivíduos que sofrem de algum distúrbio ou mal-estar que desejam corrigir, entretanto, estas também visam o aprimoramento pessoal e autoconhecimento, ainda que não sofram de distúrbios manifestos (RAMADAM,1987).
O Psicólogo Clínico:
Sabe-se que a psicologia clínica é uma especialidade da ciência psicológica, esse profissional está habilitado para realizar atendimentos ou psicoterapias, ficando livre para o psicólogo optar por uma abordagem teórica que irá embasar e nortear a sua prática. De acordo com Marques (1994) a identidade do psicólogo clínico, define-se pelo domínio de teorias, métodos compatíveis entre si, cujo objetivo é tentar atingir a “verdade” psicológica do sujeito observado para se poder direta ou indiretamente encetar um processo de intervenção.
O psicólogo clínico está apto a realizar atendimentos com diversas demandas e faixas etárias, bem como atendimentos voltados à crianças, adolescentes, adultos, idosos, famílias. Assim, os seguintes atendimentos podem acontecer tanto a nível individual quanto grupal, como o objetivo de auxiliar os sujeitos a se conhecerem melhor e a lidar de forma mais assertiva com seus conflitos e tomada de decisões. O principal do trabalho desse profissional é esclarecer aquilo que caracteriza o ser psicológico. Nesse ponto, é necessário ter um bom embasamento teórico-clínico que confira sentido ao que é observado, bem como um conjunto de métodos estratégicos para bem conduzir o processo terapêutico e ajudar na resolução dos problemas.
Considerações Finais:
As discussões empreendidas nesse artigo, baseadas na análise bibliográfica acerca do que se configura a psicologia clínica, dão subsídios para o entendimento da origem dessa área de conhecimento, bem como traça um caminho para sua construção e reconhecimento social, explicita a configuração da clínica atual e o fazer do psicólogo clinico. Nesse aspecto, esse conhecimento demonstra grande relevância tendo em vista que a clínica é o primeiro grande reconhecimento que respalda a profissão de psicólogo, logo, esse saber necessita ainda de uma disseminação mais aprofundada para então prestar esclarecimentos e desmistificar assuntos pertinentes a essa área que cada vez mais se amplia e ganha notável importância na sociedade. Portanto, esse trabalho objetiva contribuir para a construção da pirâmide que embasa o conhecimento sobre a psicologia e suas especificidades.
Fonte: © Psicologado.com